Era uma sexta-feira que tinha tudo pra ser como qualquer outra. Final da semana, horas passando lentamente, contagem regressiva para declarar um #sextou. Chego no trabalho, começo a checar os emails, e encontro uma notificação do fórum do MacMagazine dizendo “fulano te enviou uma mensagem”. Em geral não gosto dessas mensagens privadas via fórum, porque na maioria das vezes são usuários querendo tirar dúvidas ou fazer consultas de maneira privada, quando deveriam estar postando publicamente no fórum para ajudar outros usuários que possivelmente tenham a mesma dúvida/problema. Quando abri o email pude ver o título da mensagem: “Doação Powerbook 12”. Definitivamente aquela não seria uma sexta-feira qualquer.
Em resumo, o usuário disse que tinha lido o post que fiz sobre o meu Powerbook G4 12″ e que tinha um para doação. “Se quiser é seu” dizia ele. Óbvio que quero! Além disso, o doador ainda se disponibilizou a entregar o bichinho na minha casa, sem cobrar nada por isso! Eu estava trabalhando (era sexta-feira cedinho lembra? Ainda não tinha declarado oficialmente o #sextou). Trocamos contato, passei meu endereço, e ele me disse que passaria lá depois do almoço e deixaria com o porteiro.
Cheguei em casa no começo da noite, passei na portaria e nada. Não havia encomenda nenhuma pra mim. Ninguém havia deixado nenhum pacote. Em um primeiro momento pensei que o cara tinha desistido da doação. Paciência, “cavalo dado não se olha os dentes” como se dizia na minha terra. O cara desistiu de doar, relembrou alguma vivência, alguma experiência feliz que teve com aquele pedaço de alumínio, plástico e vidro e mudou de ideia. Decidiu manter próximo a ele em algum armário ou gaveta. Agora me corroía uma dúvida cruel: mando mensagem pra ele perguntando algo? Como “cobrar” um presente, algo que me estava sendo doado? Por outro lado, poderia ter acontecido alguma coisa ruim com o doador a caminho da minha casa. Podia ter sofrido um acidente, podia ter sido assaltado! Talvez fosse prudente eu mostrar que estava realmente interessado no presente, dar um feedback ao presenteador. Relutei por mais de uma hora, mando mensagem ou não mando mensagem? Sim, mando mensagem!
Trocamos mensagens, ele me confirmou que tinha deixado no meu prédio e detalhou como estava embrulhado o Powerbook. Desci umas 3 vezes na portaria até entender que o porteiro que recebeu o pacote já havia deixado a portaria e não avisou nem registrou a entrega. Junto com o porteiro, revisamos o local onde eles colocam as encomendas que chegam diariamente (é um prédio grande, chega muita coisa, todos os dias), até que encontramos. Era uma sacola de supermercado, com um papel escrito “frágil”, e com meus dados.
Dentro da sacola esta uma simpática bolsinha da Targus, com o Powerbook, a bateria separada e o carregador.
No momento que abri a bolsa e fiz a foto acima, tive a sensação de que o bichinho aparentemente estava em boas condições. Quando alguém te oferece gratuitamente um computador de mais de 18 anos de idade, a primeira coisa que você imagina é que ele deve estar destruído. O que seria perfeitamente normal para um computador portátil que deve ter facilmente milhares de horas de viagens em mochila, bolsa, ônibus, carro, avião. Mas não, esse não era o caso. Ao tirar o Powerbook da bolsa, pude verificar que ele havia sido agraciado pela sorte, e que quis o destino que fosse mantido por um dono extremamente cuidadoso e caprichoso. O Powerbook está em excelentes condições. Nenhum amassado na carcaça, nenhuma trinca no bezel plástico em volta da tela e do topcase, nenhuma tecla excessivamente desgastada. Há apenas alguns riscos na parte de baixo do notebook, e que não parecem ser decorrentes do uso mas sim fruto de algum acidente (criança brincando com chave talvez?). Qualquer usuário sabe o quão difícil é manter um portátil de alumínio da Apple longe de algum amassado ou risco. O que o Fábio fez com esse Powerbook ao longo das duas últimas décadas é algo digno de prêmio!
Agora o próximo passo é desmontar o bichinho para uma boa limpeza interna. Em geral é a primeira coisa que faço quando um “novo” Mac velho antigo chega à minha coleção. Trocar a pasta térmica, limpar as entradas/saídas de ar, lubrificar o fan, etc. Porém, esse Powerbook está tão perfeito, em condições tão boas, que pela primeira vez estou com medo de fazer essa limpeza. A chance de quebrar esse bezel cinza no topcase é enorme! E isso me preocupa. Porém não tem jeito, mais cedo ou mais tarde vou ter que encarar. Essa limpeza é fundamental em computadores com anos, décadas de uso.
O Powerbook é idêntico ao meu outro. É um modelo A1104, de janeiro de 2005. Com um processador powerPC G4 de 1.5 GHz, 1.25GB de memória ram e um HDD convencional de 60GB. Dessa forma tenho agora 2 gêmeos idênticos, sendo que um resistiu um pouco melhor ao passar do tempo. Instalei nele o Sorbet Leopard, um híbrido entre o 10.5 Leopard e o 10.6 Snow Leopard, criado e mantido por membros da comunidade de entusiastas de macs powerPC. O Sorbet traz algumas implementações do Snow Leopard para o Leopard, melhorando consideravelmente o desempenho e estabilidade, além de uma compatibilidade maior com a internet atual. Ainda não dá pra navegar normalmente como em um computador moderno, mas a experiência é bem melhor que no Tiger ou Leopard.
Ah, e ainda há um bônus! Nada mais nada menos que um iPod Nano original em uma linda bolsinha de lã com o logo da Apple e do iPod!
Agora com o combo Powerbook + iPod, posso escutar música do jeito certo que se fazia em 2005: ripando CDs e transferindo as músicas pro iPod via iTunes!
Aliás, no iPod tem até jogos!
Esse Powerbook e esse iPod ficarão na minha coleção ad infinitum. São “invendíveis”, inegociáveis. Sou muito grato ao Fabio por esses lindos presentes. Saiba que serão guardados e cuidados com muito carinho.
PS: o Fabio me mandou até a nota fiscal da compra!