eMac – O Mac “barato” para estudantes

No final de 2020, enquanto passeava pelo forum do Macmagazine, me deparei com um post que chamou minha atencao (perai, estou digitando isso no meu velho e lindo Powerbook G4 12” rodando o Mac OS X 10.5 “Leopard”, e nao consigo fazer acentuacao nesse teclado. Deixa eu procurar o software do Rainer Brockerhoff, que adiciona um layout USinternational e permite a nos brasileiros usar plenamente nossa linda lingua portuguesa e todos seus maravilhosos acentos. Pronto! Obrigado Rainer por disponibilizar gratuitamente esse software maravilhoso, que ajudava a gente a dar um salto monumental de produtividade no Mac lá no início dos anos 2000. Obrigado por manter o seu site e software disponíveis ainda hoje, em pleno 2021!). Agradecimento feito, continuemos.

No referido post, um usuário externava sua necessidade de um novo telefone, já que o seu havia partido dessa pra melhor. Em tempos bicudos de pandemia e de grana curta (algo comum a todos nós), ele disponibilizava um velho eMac como parte do negócio. Na hora respondi “tenho interesse”, sem nem pensar que o eMac estava em São Paulo, que eu moro em Belo Horizonte, e que aquela geringonça pesava quase 30 Kg! Eu quero! Rapidamente recebi um email do usuário, dizendo que se eu quisesse mesmo o eMac era meu e que fazia questão de vendê-lo pra mim. Então ele passou a relatar o porquê de tal gentileza comigo. Resulta que muitos anos atrás, lá pra 2008/2009, eu havia feito um upgrade de memória no macbook white que tinha na época e estava com um ou dois pentes de memória sobrando sem uso, jogados em alguma gaveta. Esse mesmo usuário, mas em outro fórum (saudades do MacNews Brasil!), estava procurando memórias para o seu macbook e eu então dei à ele essa memória que tinha sobrando. Eu não estava usando, ele estava precisando. Simples assim. Agora, mais de 10 anos depois, ele fazia questão de facilitar pra mim aquele eMac, e devolver a gentileza. Eu estava com um telefone parado em casa, com a bateria já bem comprometida e a carcaça meio judiada, mas que serviria perfeitamente às necessidades dele. Trocamos. Aproveitei que era época de fim de ano, férias, e uma colega de trabalho que ia de carro passar as festas com a família em São Paulo. Estava solucionado o problema do frete.

Se você acha que estou fazendo confusão com o iMac, calma jovem padawan, não só de i-products vive a Apple. O “e” do eMac vem de educacional, o “macintosh educacional”, eMac. O eMac foi lançado em 2002, inicialmente sendo vendido somente à escolas e universidades. Era o mac de entrada, significativamente mais barato que o iMac G4, também lançado em 2002. Ambos tinham um hardware parecido, com a principal diferença no fato de que o eMac vir com um monitor CRT de 17”, o que justificava a diferença de preço. O iMac G4 já vinha com tela LCD de 15”, e LCD era algo ainda bastante caro em 2002. O combo bom desempenho/baixo preço fez do eMac um sucesso. A demanda foi tão alta que a Apple não teve opção a não ser passar a comercializar o eMac no varejo, pra quem tivesse interesse.

O meu eMac foi a penúltima versão lançada, em abril de 2004, modelo “USB2.0”. Saiu de fábrica com um processador PowerPC G4 de 1,25 GHz, 256 MB de ram (expandida a 768 MB pelo antigo dono) e 40 GB de HDD.
Recebi o eMac no início de janeiro, e o primeiro problema foi: onde vou apoiar esse bicho pra testar? Eu já falei que ele pesa quase 30 kg né? A única mesa disponível que eu tinha era uma mesa de jantar, com um vão central vidro. Se apoiar o eMac ali é chão, não há dúvidas! Então o jeito foi colocar o trambolho num canto da mesa, apoiado somente sobre a madeira, longe do vidro. Fiz um primeiro teste, liguei e vi que ele deu boot no drive óptico (que estava com um DVD de instalação do Mac OS X Tiger) e que não reconheceu o HDD. Algo normal para um disco rígido mecânico, provavelmente o original lá de 2003. Não resistir à viagem de carro de São Paulo a Belo Horizonte era algo bastante possível, quase esperado. Teria que conseguir um novo disco, conexão IDE. Mas antes precisava resolver o problema da mesa. No dia seguinte trouxe do trabalho um pedaço de madeira pra fazer uma “ponte” sobre o vidro do centro, e distribuir a carga do peso do eMac sobre as laterais. Problema resolvido.

Passo seguinte, antes de pensar em qualquer outra coisa: remover a bateria da PRAM. Jovens: sempre remova as baterias de seu computador antigo. Essa é uma lei universal da natureza, e se aplica não só a computadores mas a qualquer eletrônico que contenha baterias. Sempre remova as baterias de eletrônicos quando eles não estiverem em uso por um longo período de tempo. E o motivo disso é muito simples: baterias vazam e/ou explodem! Sim, elas duram anos e anos, mas eventualmente irão vazar, irão estourar. E se isso acontecer dentro do computador, tem o potencial de destruir placas e circuitos, sem dar chance de recuperação. O material expelido por uma bateria que vaza é extremamente corrosivo, e destrói trilhas, componentes e o que mais encontrar pela frente. Aliás, não só baterias vazam, capacitores também. Mas baterias são removíveis e fáceis de serem trocadas, com capacitores o buraco é mais embaixo. Enfim, removi um único parafuso na tampa do compartimento de memória RAM e tive acesso à bateria, que foi devidamente removida e descartada.

Isso foi em janeiro de 2021, e como estava bem ocupado com trabalho/pandemia/família, não necessariamente nessa ordem, o eMac ficou guardado e esperando eu ter tempo de me dedicar a ele como era merecido. Em março, como sempre munido do guia do iFixit, comecei o processo de desmontagem.

Alguns poucos (e lindos!) parafusos de aço inox removidos e o case de policarbonato branco pode ser retirado, tomando-se cuidado com o cabo do botão de liga/desliga que precisa ser desconectado. A primeira impressão ao remover o case foi a sujeira! É incrível como um computador tem a capacidade de absorver poeira ao longo dos anos. Esse eMac aparentemente nunca havia sido desmontado para limpeza. Havia muita sujeira acumulada no CRT, no enorme fan exaustor e no heatsink da CPU. Além disso, o interior do case de policarbonato também estava bastante sujo. Coberto de uma espécie de fuligem preta, parecia ter sido exposto à altas temperaturas (nenhuma novidade para um Mac PPC).

Outra coisa que causa grande impressão é o monitor CRT. Hoje em dia, a gente não está mais acostumado a telas CRT. Mais que isso, há uma geração inteira de adultos que não tem idéia do que é uma tela CRT, que nunca usou ou viu uma tela dessas ligada. Só mesmo vendo um bichão desses desmontado é que a gente se dá conta da engenharia que há nessas telas. Essa tela específica do eMac é uma tela de 17”, plana, com resolução de 1280 x 960, nada mal pra início dos anos 2000. Não custa nada lembrar, telas CRT funcionam com alta tensão e podem ser perigosas. Ao desmontar pode haver carga elétrica armazenada nos capacitores, e dependendo de onde você tocar a patada pode ser forte. Há protocolos específicos para descarregar telas CRT e poder trabalhar neles em segurança. No meu caso, como não tenho os equipamentos pra fazer a descarga de maneira segura, o que fiz foi deixar o mac desligado e desconectado da tomada por tempo suficiente para ter certeza que não haveria nenhuma carga residual (recebi esse eMac em janeiro e só desmontei ele em março). Por via das dúvidas, eu evitei ao máximo mexer no CRT (até porque está funcionando perfeitamente). Apenas limpei o que deu, com um paninho seco e no máximo um pouco de álcool isopropílico.

O processo de desmontagem seguiu sem maiores problemas. Pra minha surpresa, é relativamente simples desmontar esse eMac. Muito mais simples do que o iMac G5 por exemplo. Soltando mais alguns poucos parafusos e cabos, removemos o drive óptico e a logic board, deixando pra trás apenas o CRT.

Agora que o bicho está todo desmembrado na sua frente é uma boa hora pra fazer uma inspeção cuidadosa na logic board, verificando se há algum dano e, principalmente, como estão os capacitores. Como dito acima, capacitores vazam, estufam, estouram, e destróem seu computador. Principalmente computadores dessa época, que estão sujeitos à “praga dos capacitores” (Essa história é sensacional e merece um artigo específico. Mas em resumo: diz a lenda, que um cientista que trabalhava numa fabricante de capacitores no Japão roubou a fórmula de fabricação de um novo material para eletrólitos de capacitores, e à levou para um concorrente na China. Só que o camarada copiou a fórmula errada! Da China ele foi pra Taiwan, onde mais uma vez distribuiu a fórmula – errada – para diversos fabricantes. Os capacitores fabricados em Taiwan eram bem mais baratos, e várias empresas passaram a utilizar os mesmo em seus produtos: Apple, Dell, HP, Intel, IBM, entre outros. Os capacitores, obviamente, eram uma porcaria. O material do eletrólito gera hidrogênio a partir da água, e portanto torna-se uma bomba relógio dentro do seu computador. Todos os produtos dessas empresas, fabricados entre 1999 e 2003, estão sujeitos à praga dos capacitores, e a maioria das falhas ocorreu entre 2005 e 2007). Portanto, se voce tem um computador fabricado nessa época é fundamental que voce verifique os capacitores. Se houver algum capacitor estufado ou vazando, não tem jeito, voce vai ter que trocar esse componente. Pra minha sorte, aparentemente está tudo ok com os capacitores do meu eMac.

Hora da limpeza! Paninho seco, muito álcool isopropílico, paciência e cuidado. O que deu mais trabalho de limpar foi a carcaça de policarbonato. Além de ser muito grande e incômoda pra segurar/limpar, a parte traseira onde fica a saída de ar é um inferno e deu um trabalho gigantesco. A melhor solução que encontrei foi mergulhar tudo em água, tomando o cuidado de não molhar o botão de liga/desliga. Lado macio da esponja, detergente, e devagarinho foi ficando mais limpo. Depois finalizei com uma flanela e álcool isopropílico. Pra ter uma idéia de como estava sujo basta olhar o cooler depois da limpeza!

Depois de tudo limpo é hora de trocar a pasta térmica no processador, colocar a nova bateria na PRAM e instalar o “novo” HDD IDE. Depois é só montar o bichinho, torcendo pra que não sobrem peças!

Depois de montado é hora de instalar o Tiger (Mac OS X 10.4), versão do Mac OS mais recomendada pra esse mac, atualizar o sistema (sim, a Apple ainda mantém os servidores de atualização pra um sistema que deixou de ser comercializado em 2007) e se divertir com mais um mac velho, digo clássico, não, melhor vintage. O velho monitor CRT é surpreendentemente confortável. O tamanho e a resolução ajudam. O áudio desse eMac é excelente! Os dois alto-falantes frontais reproduzem sons com muita qualidade. Arrisco a dizer que é o mac com o melhor sistema de áudio que eu já tive. E tem um design simpático. Ok, essa frente com os dois alto-falantes é meio estranha, mas o design geral desse eMac é bem agradável aos olhos. Tem um estilo futurista, parece algo saído de “Os Jetsons”.

Deu até pra “brincar de trabalhar”, navegando na internet, usando o Keynote e editando texto ao som do Bon e velho Jovi!

Faltou só uma coisinha: o teclado. Vamos dar um jeito nessa sujeira e nesse amarelado. Mas isso fica pra outro post.

3 comentários

  1. Rapaz… ainda não tive tempo de ler tudo, mas as partes que li e as fotos já me deixaram babando. Gostaria de ter a capacidade e paciência de fazer algo assim. Presenciei essas novidades da tecnologia e me arrependo de não ter guardado alguns gadgets que passaram por aqui… até tentei adquirir alguns de novo, mas é muito difícil encontrar algum em bom estado que custe os olhos da cara.

  2. Marcos foi um prazer mandar esse bichinho pra você ,pelo visto cuida bem dos equipamentos, sempre que pintar alguma coisa vamos negociando.

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